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No aniversário de 74 anos do Independente, uma entrevista com Lemão Bego

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Por Denis Suidedos

Difícil falar de Independente sem Antonio Bego ou, de Antonio Bego, sem Independente. Afinal de contas, de seus 70 anos de vida, 45 foram dedicados ao Galo da Vila Esteves.

O clube completa, hoje, 74 anos de história, pois foi fundado em 19 de janeiro de 1944 por vários e vários abnegados, lembrados até os dias de hoje.

Em seu restaurante, Recanto do Bego, Lemão, como é conhecido, recebeu a nossa reportagem para um bate-papo franco e agradável.

No relógio, 10h20 da última quarta-feira, ou seja, 40 minutos antes do início das atividades. Porém, com irreverência e sinceridade que são peculiares, respondeu aos detalhes sobre o clube do seu coração.

GL – Fale um pouco do amor que tem pelo Independente Futebol Clube.

AB – Começou logo que minha família foi envolvida no Campeonato Amador. Hélio Bego, que infelizmente já faleceu, era muito envolvido com a competição e contagiou à todos.

Em 1972, quando profissionalizamos, me envolvi, pois tinha um bar na Avenida Santa Bárbara, que era uma das sedes do clube. Pedro Bego, Hélio, meu pai João, enfim, todos tinham envolvimento e me vi na obrigação de fazer parte.

No primeiro ano de profissional fui tesoureiro do clube. Presidente em 79, 81, presidente do conselho por vários anos, enfim. São praticamente 45 anos de dedicação.

GL – Sobre os jogadores, partidas, qual time te marcou? Lembra de alguém?

AB – É [risos]. A gente que viveu nessa época de glória do clube se lembra bastante. Porém, sou ruim para recordar de escalação, mas nos lembramos de Loka, Sormani, Tuti, João Ferraz, Dadona, até porque eram de Limeira.

Chiquinho e João Miguel, de Piracicaba, Ademir, de Tietê, Jurandir de Rio Claro. Nessa época de 77 e 78, tínhamos um grupo de jogadores que seguiu conosco. Liminha, que era de Garça, ficou dois campeonatos e era uma época muito boa.

GL – Antes era mais fácil de tocar o time?

AB – Sem dúvida, porque tínhamos 66 conselheiros e nos reuníamos sempre. Quando havia dificuldade financeira, além de explicar tudo o que se passava, todos ajudavam e para se fazer um caixa era mais fácil.

Nos últimos dois anos que fui as reuniões do conselho, antes de ter me afastado recentemente, encontrei cerca de oito, dez conselheiros e assim não tem como fazer nada para dar retorno financeiro ao clube.

Sempre foi difícil, mas entre 70 e 80, até com a parte social funcionando, entre os bingos, matinês, bailes, almoços e eventos que realizávamos, conseguíamos um retorno imediato.

GL – Por que diminuiu tanto o número de abnegados?

AB – Não sei, confesso. Talvez porque os filhos daquelas pessoas que nos ajudavam, foram para outros caminhos, outras prioridades e o futebol ficou muito caro, pouco atrativo. Vivemos outros tempos.

GL – Você disse que se desligou há dois anos. Aposentou do futebol?

AB – Passei por um problema de saúde muito sério, uma cirurgia, então achei que em 45 anos já fiz muito e chegou a hora de descansar. Claro que quando alguém liga, o Luis Paulo [presidente do conselho] ou o Carlos Celine [presidente da diretoria] eu ajudo da melhor forma possível.

Jamais vou me negar a isso. Mas como a dificuldade financeira é muito grande, teria que ter mais gente, jovens, torcedores se envolvendo mais na política do clube, pois com o esquema de celular e WhatsApp, a comunicação ficou mais fácil e isso poderia ser utilizado para a união do time.

 

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GL – Nos últimos anos o time foi gerenciado por parceria. No primeiro momento, dividiu responsabilidades com a diretoria. Depois, abraçou tudo de uma vez. O que você tem a falar sobre isso?

AB – Não vou criticar a Arte da Bola porque sei que é difícil. Acredito até que eles tinham boa intenção e gastaram bastante dinheiro. No início fizeram boa campanha, mas quando o Anivaldo chegou, era um advogado com parte financeira boa, com poder de investimento.

Depois, com a Lava Jato, o que soube da boca do próprio Anivaldo dos Anjos, foi que isso prejudicou. Empresas que ele advogava, envolvidas no esquema, acho que a torneia fechou e eles também não receberam nem pelos serviços prestados. A parte financeira deles, acredito, piorou bastante. Acabou o dinheiro e aconteceu o que aconteceu.

GL – Alguns diretores diziam aos quatro cantos que era culpa da imprensa. Concorda?

AB – Não, de forma alguma. Às vezes para tapar uma deficiência fica mais fácil jogar a culpa no próximo. Veja, estou há 47 anos no ramo alimentício e se der algum problema aqui, eu sou o responsável. Não é a cozinheira, o comprador. A responsabilidade é minha.

Em 45 anos sempre tive bom relacionamento com a imprensa, dentro ou fora do Independente. Um depende do outro, pois sem futebol não há imprensa e vice-versa.

O Beto [Roberto Lucato], por exemplo, tenho um carinho especial por ele e sei que ele tem comigo. Somos muito amigos e não é de hoje. Ele era criança e já frequentava meu restaurante. Por essas e outras que ele é especial. Sempre esteve à frente nos ajudando em tudo e, sem dúvida, se ele não existisse, não saberíamos nada sobre o esporte limeirense.

GL – E aquela festa pirotécnica, realizada no buffet Samsara?

AB – Não precisava de tudo aquilo. O Galo nunca realizou algo parecido com aquilo, pois sempre fomos simples. Poderiam ter utilizado o montante que foi gasto no investimento do próprio time. Agora, por exemplo, recebi o convite para participar da missa e do evento em celebração ao aniversário, hoje, no Pradão. E tem que ser assim, simples, pois não adianta fazer algo pomposo e na sequência cair de divisão.

GL – Você é muito amigo do Júlio Maçorano. Outro que ajudou bastante o Independente?

AB – O Julio, na minha opinião, se não fosse por tudo o que ele já fez, o clube [time de futebol] teria fechado há muitos anos. Ele nunca mediu esforços para ajudar. Você vê que o salão, na parte social, que depois acabou se perdendo, ali foi único e exclusivo esforço dele.

Todos que assumem, principalmente os da cidade, a primeira coisa que fazem é procurar o Júlio. Chega uma hora que cansa. Como eu cansei, acredito que ele também esteja nesse estágio, pois você só coloca dinheiro, coloca dinheiro e, sem retorno, fica muito difícil.

GL – Futebol está acabando?

AB – Acho que no interior não vai muito longe, principalmente os times pequenos. São inúmeros os times de cidades vizinhas que passam por problemas. Aqui, por exemplo, temos dois times, e todos sabem das dificuldades.

GL – Como limeirense, vai torcer para a Inter na Série A-2?

AB – Não. Existe o respeito, mas não vou torcer. Não sou como alguns. Mesma coisa de você pegar algum diretor da Inter, com nome forte, dizer que vai trabalhar para o Galo. Isso não existe. Alguns saírem do Independente, chateado com alguma coisa, e dizer que vai ajudar a Inter? Eu não critico, mas jamais você vai me ouvir dizendo que ajudo um time que já foi meu adversário.

GL – Você tem um restaurante que também é frequentado por leoninos?

AB – Sim, claro. Estou aqui na Boa Vista há mais de 20 anos e o respeito sempre existiu. Eu respeito, eles me respeitam e a maioria dos meus clientes são leoninos. E todo sabem que sou galista e isso não vai mudar.

GL – Qual foi sua maior alegria no Galo?

AB – Foi uma partida realizada em 1981, acredito. Ganhamos da Portuguesa Santista por 1 a 0, em Santos e, quando chegamos, à noite, a Major Levy estava tomada por galistas. Este foi um momento único.

GL – E a maior tristeza?

AB – Foi ver alguns ex-dirigentes virar as costas para o clube. Outros que passaram e foram até testemunhas de jogadores que entraram com ações trabalhistas. Um caso, com alguém que era muito meu amigo e um goleiro, na gestão dele, entrou na Justiça. Ele testemunhou à favor do atleta, contra o clube. Ora, se ele tivesse pago, pois era o presidente, a ação não existiria. Isso para mim não existe.

GL – E agora, na quarta divisão?

AB – Pessoal que está chegando é do bem. Luis Paulo, Júnior, Nicola Barbato, enfim, estão trabalhando bastante. Mas sem parceria e se depender só da cidade, fica completamente inviável, pois falta dinheiro.

GL – Um recado para os torcedores nesse aniversário.

AB – Olha, praticamente aposentei, mas se os velhos galistas fizerem uma reunião para abraçar o time novamente e colocar a mão na massa, podem contar comigo. Que esses novos dirigentes arregacem as mangas e trabalhem, pois precisamos de sangue novo. Que pessoas como a família do Pacheco, O Geraldo e o Zezé, o próprio Júlio quando chegou a Limeira, o Álvaro Zenebom, enfim. Que esses eternos abnegados sirvam de exemplo para os mais novos.

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