Categorias
Campeonato Amador Perdas

Um pouco sobre Ademir Aragão

Redes Sociais Esportivas

Por Edmar Ferreira

Até pela experiência que adquiri com o passar do tempo – já são 23 anos trabalhando na imprensa em Limeira -, esperei o momento certo para escrever sobre Ademir Aragão.

O dia 29 de agosto de 2018 foi o mais difícil para a família do árbitro. Infelizmente, algumas pessoas não respeitaram a dor e procuraram tumultuar o ambiente.

Mas a mim não meu causou nenhuma surpresa.

A vontade de querer aparecer supera todos os limites. O ser humano está perdendo seu valor. A tal “competição” é cada vez mais ridícula, até mesmo em casos extremos como esse.

Li tudo o que escreveram, quieto, indignado, mas sem me manifestar. Pelo contrário, torci muito para que ele conseguisse sobreviver.

Não escrevi uma linha sequer do caso em meu site ou rede social. E olha que recebi mais de 100 mensagens perguntando sobre o caso.

Apenas compartilhei a luta do nosso árbitro pela vida nas matérias, sempre corretas, do jornalista Lucas Claro, do Rápido no Ar.

Gostaria aqui de falar sobre o Ademir Aragão.

Confesso, lágrimas caem neste momento.

Ele não era só um amigo de amador. Era muito mais.

Aragão me chamava de “mito”.

Até ontem à noite, mostrei alguns áudios dele para meu pai Edmundo Silva, às vésperas de Corinthians e Colo-Colo.

Sempre me chamava de “fera da narração”.

Um dos gestos mais nobres de Aragão aconteceu na final do último Torneio Primeiro de Maio, no Pradão.

Para quem não sabe, ele colecionava as bolas das finais que ele apitava.

Pois bem, eu transmiti ao vivo a final entre Ajinomoto e Faurecia pelo Rápido no Ar.

Para minha surpresa, quando terminou o jogo, Aragão foi até a nossa cabine e me presenteou com a bola do jogo.

Justo ele, que era colecionador.

Isso prova o quanto ele gostava e me admirava.

Me lembro do Tatinha Casagrande falando para mim: “Cara, o Aragão gosta demais de você”.

No dia seguinte, me mandou uma mensagem. Ele queria doar suas bolas para pessoas carentes. Citou até o projeto do lateral Betinho.

Há dois domingos, Aragão foi até o Jardim São Paulo. Estava de folga, mas sempre acompanhado do Cristiano Nalesso, seu fiel escudeiro.

Estranhei o fato dele não estar trabalhando. A resposta foi: “estou cansado”.

Com todo respeito aos demais, e não é porque ele morreu, mas Ademir Aragão era o melhor árbitro de Limeira. Eu sempre ressaltava essa virtude.

Li algumas pessoas escrevendo que ele era “malinha demais”. Na verdade, ele sabia muito de arbitragem. Muito mesmo.

Todos os jogos difíceis do nosso amador, o árbitro era sempre ele.

Aragão tinha competência de sobra e “sorte”. A tal “sorte” é que dificilmente um lance polêmico acontecia em seu jogo. Ele passava ileso.

Ele sempre me falava: “quando os dois times me cumprimentam após o jogo é sinal de que fui bem”. Ele tinha razão.

Como ele infelizmente morreu, agora posso confidenciar algo aqui:

Ele sempre me consultava sobre os clássicos que iria apitar.

Ele estudava os times.

Ele conversava com os jogadores mais problemáticos antes das partidas.

Ele conduzia uma partida como poucos.

Vou mais além….após os jogos ele me mandava mensagens perguntando sobre sua atuação.

Sempre deixei claro ao Aragão que apontaria seus erros, até para ele melhorar. Éramos amigos e o amigo sempre fala a verdade.

Um jogo do Nova Itália por exemplo, ele deixou de expulsar um jogador que fez uma falta duríssima e por trás. A imagem era clara.

Reprovei seu cartão amarelo na transmissão. Era vermelho sem dó.

No dia seguinte ele mandou: “errei mesmo. Preciso me policiar mais nesse tipo de lance”. Que baita humildade.

Isso prova o caráter desse árbitro que Limeira infelizmente perdeu.

Aragão era diferenciado….ele não tinha inveja, não tinha maldade…não era traíra como alguns…pelo contrário, incentivava os demais companheiros de arbitragem. Todos gostavam dele.

Tinha preparo físico…educação…boa conversa…era respeitado.

Ademir Aragão mostrou como agir…era o dono da partida. Gostava disso. Apitava forte.

E que pena nos deixou tão precocemente…..

Enfim, ficaria aqui horas e horas escrevendo sobre suas qualidades.

Mas acredito que tenha passado um pouco na minha grata convivência com ele….

Aragão, meu muito obrigado parceiro….obrigado mesmo…Você fez parte da minha carreira. Jamais vou esquecer disso.

Que Deus te receba de braços abertos e aí de cima, olhe sempre por nós.

Sua passagem na Terra merece uma nota 10.

Você sempre será Pimbaaaaaaaaa!

*** Foto – Felipe Calicchio

  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •