Por Edmar Ferreira
Foi sepultado na manhã de ontem no Cemitério Saudade II, o corpo de Jairo Oliveira, de 81 anos, um dos mais importantes presidentes da história da Internacional. Foi o responsável pela volta do Leão ao profissionalismo em 1975.
Recentemente, Jairo Oliveira recebeu em sua casa o narrador Edmar Ferreira para uma entrevista exclusiva. Ela fará parte de um segundo livro que está sendo preparado pelo jornalista, que traria as 100 pessoas mais importantes do Leão.
Nessa entrevista, Jairo abriu seu coração e falou dos momentos marcantes no período em que foi presidente da Veterana.
O torcedor da Internacional ficou sem ver o seu time disputando uma partida oficial pelo Campeonato Paulista de 1967 a 1975. Foi o período em que o presidente Benedito Iaquinta pediu licença na Federação Paulista de Futebol para a construção do Estádio Major José Levy Sobrinho, que atendesse as exigências da entidade. Um dos problemas era a capacidade de público, uma vez que a Vila Levy não comportava uma Primeira Divisão.
Em 1975, Jairo Oliveira teve um papel fundamental no retorno do Leão aos gramados. No ano anterior, entrou como dirigente alvinegro e participou inclusive da devolução de Vila Levy aos donos, em especial ao senhor Manoel Simão Barros Levy.
Assumiu a presidência
Jairo foi convencido por Messias Antônio de Moraes, Roberto Brugnaro e Paulo D’Andrea a assumir a presidência no lugar de Benedito Iaquinta.
“Não foi nada fácil, afinal de contas, o Benedito estava disposto a continuar. Só que a diretoria queria dar uma chacoalhada na administração. Queria que a Inter voltasse a disputar o Campeonato Paulista. Por isso, me elegeu. Os diretores queriam dar um gás no time e eu estava cheio de vigor. Mas o Benedito não gostou muito de sair. Ele só foi na minha posse porque tinha muita consideração comigo”, confidenciou na entrevista.
A primeira atitude que tomou como presidente foi aglutinar a família leonina, que segundo ele, estava dispersa.
“Foi um grande sucesso. Mobilizamos a cidade em torno da Internacional. Nunca tive tanto apoio como naquele ano. Consegui 100 pessoas que davam 100 cruzados na época para ajudar o clube. E davam com gosto, pois sabiam que o dinheiro estava sendo bem investido. Me lembro também que nossos jogos na Usina São João atraiam um grande público. A Internacional sempre foi um time muito querido e admirado”, frisou.
Saída da presidência
Jairo Oliveira deixou a presidência para Sérgio Batistella. Ele lembra que o maior problema que enfrentou em sua administração foi “convencer São Pedro”.
“Eu não conseguia inaugurar o Limeirão, pois sempre chovia. Até que em 1977 conseguimos trazer o Corinthians e mais de 40 mil pessoas assistiram o amistoso. Foi um dia histórico para todos nós. Era um sonho realizado. Um trabalho coletivo, que envolveu uma cidade inteira”, destacou.
Time de 1947
O amor de Jairo Oliveira pela Internacional começou mais precisamente em 1947. Ele tinha na memória o onze leonino que disputava a Segunda Divisão.
“Todos falam de 1986, do título paulista em cima do Palmeiras. Mas meu time inesquecível foi o de 1947, com Caju, Silva e Moreno; Kim, Marinho e Baeninger; Peixe, Zezinho, Miguelzinho, Lupércio e Antônio Carlos. Esse time era mágico, brilhante e me encantava”, elogiou.
Retorno em 1987
Jairo Oliveira retornou à presidência da Internacional em 1987, logo após o título paulista. “Em 1986 eu fazia parte da diretoria. Eu e o José Manoel de Almeida fomos atrás do Victório Marchesini. Na minha opinião ele foi o melhor presidente da Inter. Entrava às 9h no Limeirão e só saía às 21h. Ele mereceu ser campeão paulista e ter seu nome cravado para sempre na história do clube”, elogiou.
Jairo contou que foi homenageado em 1987 com a presidência da Internacional. “Era uma forma de me agradecer por todo empenho nos anos que fiz parte da diretoria. A fase era ótima e todos só falavam do gigante do interior. Aceitei e acredito que fiz um bom trabalho”, frisou.
Naquele ano, a Internacional terminou em quinto lugar no Campeonato Paulista, atrás apenas dos quatro grandes da capital. O técnico era José Poy, que substituía a Pepe, que se transferiu para o São Paulo. “Eu sou são-paulino e adorava as histórias do Poy. Baita cara e um excelente profissional”, lembrou.
Além disso, Jairo fez caixa ao vender o atacante Lê para o São Paulo. “Foram, se não me engano, mais de 2 milhões nessa transação. Dinheiro muito bom na época. Foi muito bem-vindo”, sorriu.
Em 1988, Jairo deixou a presidência e novamente Victório Marchesini assumiu. “Tinha cumprido minha missão no futebol do clube”, ressaltou.
Clube de Campo da Inter
Jairo Oliveira também ficou 15 anos na administração do Clube de Campo da Internacional. “Fiz parte da construção daquele patrimônio. Era o presidente da comissão de obras, enquanto o Varley Grotta era o tesoureiro. Chegamos a ter cinco mil associados”, disse.
Em 2000, Jairo se desligou do Clube de Campo e viu aquela beleza desmoronar após administrações que deixaram a desejar.
“Uma das grandes tristezas que tenho é ver o Clube de Campo do jeito que está, completamente abandonado e sem perspectivas. Isso é de cortar o coração”, lamentava. Oliveira dizia que um dos grandes erros da Internacional foi afastar Varley Grotta do local. “Ali, o clube morreu”, disse emocionado.
O maior sonho do ex-presidente era ver a Internacional disputar novamente a divisão de elite do Campeonato Paulista.
Jogo inesquecível
Seu jogo inesquecível aconteceu em 1987. “A Inter enfrentou a Ponte Preta no dia 05/08/1987, no Limeirão. A gente precisava vencer de todas as formas, pois lutávamos pela classificação. Empatamos por 1 a 1 e o Gilberto Costa desperdiçou uma penalidade máxima. Fiquei me lamentando com ele um tempão após a partida. Ele ficou chateado com o pênalti perdido e com o meu desespero e prometeu uma vitória contra o São Paulo. E cumpriu. Vencemos o Tricolor, no Limeirão, por 2 a 0 no dia 12/08, com direito a um gol dele, dedicado a mim. Que momento foi aquele”, recordou.
Vida
Jairo Oliveira nasceu em Limeira no dia 02/01/1936. Seu pai Sebastião Oliveira Camargo, que era motorista da Casa Drago, faleceu quando ele tinha apenas quatro anos de idade. Sua mãe Vitalina Soares da Silva casou-se novamente, com Carmino Guerra. Jairo tinha quatro irmãos, Sebastião, Alair, Roberto e Norma.
Completou o segundo grau na Escola Castelo Branco e se formou em direito na Unimep. Porém, pouco exerceu a profissão. Seu negócio era mesmo o comércio. Seu primeiro emprego foi no Escritório Mercuri aos 15 anos.
A vida do seu Jairo começou a mudar quando ele, um irmão e um cunhado compraram o Armazém do Artur Pinto, na Rua Ceará. Em 1969, transformou o local no Supermercado Guerra.
Jairo contou que o nome foi em homenagem ao seu padrasto. “Como perdi meu pai muito cedo, quando tinha quatro anos, todos achavam que eu era filho do seu Carmino Guerra. Por isso, decidimos colocar o nome de Guerra”.
Em maio de 1971, Jairo transformou o prédio da Zaccaria em Supermercado Guerra II. O sucesso era tão grande, que em pouco tempo a família tinha aberto 12 supermercados na cidade. “Cada ano a gente montava um. Abri dois inclusive em Piracicaba”, lembrou.
Após 53 anos dedicados ao comércio, Jairo Oliveira decidiu parar com as atividades em 2004. “Estava cansado demais. Preferi parar e administrar meus imóveis e os meus loteamentos”.
Oliveira deixou a esposa Elsa Scaringe Oliveira, e os filhos Rodrigo (secretário municipal de Mobilidade Urbana), Marisa, Denise e Adriana, além de cinco netas, um neto e uma bisneta.