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Sobrevivente Rafael Henzel relata detalhes da tragédia com Chapecoense

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Por Edmar Ferreira

Um momento que ficará para sempre na memória dos limeirenses, em especial do apresentador Dr Roberto Lucato, dos cativos Edmar Ferreira, Roberto Martins, João Valdir de Moraes, Denis Suidedos e César Roberto, do produtor Fernando Carvalho, dos câmeras e editores.

A participação especial de Rafael Henzel na Segunda Esportiva da última segunda-feira foi marcante em todos os aspectos e quebrou o recorde de audiência dos 14 anos do programa.

Sobrevivente do acidente aéreo que matou 71 pessoas em Medellín, na Colômbia, o narrador esportivo aceitou o convite para estar ao vivo na TV Jornal e contou em detalhes tudo o que passou, além de transmitir uma mensagem de otimismo e de amor a vida aos telespectadores.

Henzel foi firme em suas respostas, conteve a emoção ao ver os cativos com lágrimas nos olhos e mostrou muito conhecimento em tudo aquilo que estava dizendo. “O que importa é a minha verdade. Eu sobrevivi e falo sempre o que passei”, disse.

O jornalista recebeu o carinho dos limeirenses através de mensagens e telefonemas. No dia seguinte, Henzel ministrou uma palestra no Centro Cultural, em Rio Claro, onde autografou seu livro “Viva como se estivesse de partida”. Tirou fotos com os presentes e passou uma mensagem de otimismo.

Nesta matéria especial para Gazeta de Limeira, vamos simplesmente reproduzir as perguntas e as respostas do sobrevivente, além de incluir alguns detalhes colhidos nos bastidores da entrevista. São relatos emocionantes.

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Entrevista com Rafael Henzel

Roberto Lucato – Vejo você indignado como as coisas estão sendo conduzidas após a tragédia. Você está chateado?

Henzel – Veja bem, os familiares dos jogadores ganharam seguros e receberam os salários da Chapecoense. A CBF ajudou também com valores e indenizações. Mas tem também os familiares dos jornalistas, dos convidados, dos tripulantes e dos sobreviventes.

Se Deus me permitir, quero ser o último a receber, pois estou aqui e sigo trabalhando, narrando e voltando para o convívio com minha família. Não tenho a necessidade urgente desta indenização, até porque ela não existe atualmente, isso para quem não é funcionário do clube.

Me parece que a Globo e a Fox negociaram indenizações com as famílias dos funcionários que perdeu no acidente. Mas aí você vem para a nossa realidade, que são os jornalistas do interior que perderam a vida. Aqueles cujos holerites são baixos e que ganhavam um outro valor.

A empresa não existe, está quebrada. A seguradora não paga. Já a resseguradora oferece 200 mil dólares por cada um, desde que 80% das famílias aceitem. Para algumas, como do massagista, do preparador de goleiros, esse valor resolveria. Seria um restart na vida, mas talvez para as esposas dos jogadores não, para os advogados delas, também não. É complicado, pois é a primeira vez que isso acontece.

Roberto Lucato – O que você espera daqui para frente?

Henzel – Veja bem, tivemos uma tragédia com o Torino em 1949, mas não algo parecido na realidade. A Chapecoense é um marco. Ninguém pode ser prejudicado. Não é só a questão financeira, pois aos poucos você consegue reconstruir sua vida, mesmo que ganhando menos.

O problema é que a perda não tem preço. Perdi dois companheiros que estavam do meu lado no voo. Na semana passada tivemos uma aproximação com os familiares. Duas associações sentaram pela primeira vez com a Chapecoense. Torço para que dê certo.

Esperamos também que a investigação avance. Alguém aprovou um plano de voo suicida, que diversas vezes decolou no limite do combustível, ou seja, o tempo de viagem era o mesmo da autonomia da aeronave. Quando deu duas voltas, caiu.

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Roberto Lucato – Sempre lia nas reportagens que a Chapecoense tinha uma administração elogiável. E hoje, ela conseguiu se reconstruir após a tragédia?

Henzel – Aquela administração deixou o clube sem nenhuma dívida com o INSS, diferente de times que devem R$ 388 milhões, por exemplo. Foram seis anos e meio de muito trabalho. Os diretores cresceram dentro do clube.

A Chapecoense estava na Série D do Campeonato Brasileiro e começou ganhar seus jogos em casa e a jogar por uma bola fora dela. O time foi conquistando acessos até chegar na Série A.

Uma das filosofias era manter um teto salarial baixo, mas pagando em dia. Não tinha jogador recebendo R$ 150 mil. Eles tinham os pés no chão, porque o futebol é um poço sem fundo se você não souber administrar.

Para essa administração que pegou após a tragédia nem o computador com as informações econômicas do clube sobrou, pois estava com o diretor financeiro que morreu no acidente.

Acho injusto quando criticam a Chapecoense pela viagem. Se alguém tivesse alguma dúvida da qualidade do serviço, o presidente não embarcaria. Aí você perde do presidente ao roupeiro.

Vejo as vezes Corinthians e Palmeiras reclamando que perderam quatro titulares e que terão dificuldades nas próximas rodadas. Poxa, nós perdemos 20 jogadores. A Chape precisou contratar 25 novos atletas.

Aí vem a solidariedade. Vamos ajudar com milhões aqui, milhões ali e nada. Sem clubismo de minha parte, mas o Palmeiras foi o time que mais ajudou, emprestando João Pedro, Natan e Amaral. Também fez um amistoso na Arena Condá. Isso deu um start para o clube.

Mas aí a Chape se aproxima da zona do rebaixamento do Brasileirão e a solidariedade é esquecida. Rossi e Andrei Girotto, dois destaques do time, são negociados com o futebol chinês e francês, respectivamente. Ou seja, solidariedade no futebol é só no início. Difícil recomeçar do zero.

Aí chega alguém no clube e diz que a Chapecoense lhe deve um tanto e mostra uma assinatura. Muita coisa se perdeu na tragédia. É por isso que eu digo, se a Chapecoense não cair para a Série B este ano será um prêmio gigantesco.

Edmar Ferreira – Me emocionei várias vezes com você, mas duas em especial. A primeira, quando você narrou o primeiro gol da Chapecoense após a tragédia, que foi do zagueiro Douglas Grolli contra o Palmeiras naquele amistoso na Arena Condá. E segundo, e mais importante, quando você reencontrou o seu filho Otávio de 11 anos ao chegar em Chapecó. Ele tinha certeza que você não estava entre os mortos. Como foi essa sensação?

Henzel – Então, quando eu deixei a Colômbia para retornar ao Brasil, o chefe da UTI disse que o Fantástico da TV Globo tinha exibido uma matéria sobre meu filho e que me levaria para vê-lo. Até o protocolo foi quebrado.

Foram nove horas de viagem até Chapecó. Era para eu sair de maca, pois não conseguia caminhar em razão das duas lesões que sofri nos pés. Ele foi lá fora e trouxe meu filho para dentro. Foi emocionante. Eu falava com o Otávio pelo whatsapp, mas ficava de lado no aparelho, até para ele não ver os cortes que eu tinha no rosto. Não queria deixá-lo triste ou preocupado comigo.

Também recebi a visita da assessora de comunicação da Chapecoense que perdeu seu marido na tragédia. Ela tem dois filhos. Isso mexeu muito comigo, pois meu filho me abraçou e os filhos dela não dariam mais um abraço no pai.

Chegando no hospital, fomos isolados em um canto por conta de uma bactéria. Eu tive pneumonia. Foi um momento tenso, pois a primeira tentativa com antibiótico não deu certo. A segunda resolveu e ali foi um grande momento da minha completa recuperação. Só tenho que agradecer o carinho de todos, em especial ao povo de Chapecó.

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Edmar Ferreira – Você foi ao templo de Aparecida para agradecer o milagre?

Henzel – Sou católico, mas independente das religiões, devo um abraço para cada pessoa que rezou por mim e pelo demais sobreviventes. O porteiro do hotel que eu fiquei hospedado em Rio Claro para a palestra disse que quando me viu, sentiu que eu era um parente que há muito tempo ele não via, tamanha comoção que foi.

Realmente foi muito midiático, mas pelo lado positivo. As pessoas se sensibilizaram com a tragédia, torciam por nossa recuperação e acima de tudo, rezavam. Essa energia positiva foi fundamental.

O Neto demorou oito horas para ser socorrido e eu sempre digo que ele é um milagre vezes dois, pois foi no último suspiro mesmo. Eu demorei cinco horas para ser resgatado. O Allan Ruschel por um centímetro não ficou tetraplégico. Passou até por uma cirurgia delicada na coluna. O Jackson Folmann perdeu uma perna e vive dizendo que é um homem de ferro e realmente é.

O importante é que os seis sobreviventes estão bem e trabalhando intensamente. Foi um milagre de Deus. É por isso que agradeço à todas as religiões por terem orado pela gente.

Eu tinha um convite para conhecer uma imagem original em Aparecida, mas peguei minha esposa e fui para lá como fazem os fiéis, não avisei. Chegando lá fui reconhecido e as pessoas tiraram foto comigo, pois sabem que sou um milagre em vida.

Veja bem, fui em Aparecida quando minha esposa estava grávida, quando meu filho nasceu e agora para agradecer pelo milagre que passei. Completei 44 anos recentemente, mas minha contagem está em 269 dias, isso pela segunda vida que agora estou tendo a oportunidade de curtir.

Roberto Martins – Existe uma grande discussão entre a nossa equipe. Se a tragédia fosse com o avião do Atlético Nacional no Brasil, a comoção seria a mesma?

Henzel – Difícil afirmar. Veja bem, tivemos há 10 anos a tragédia com o avião da TAM no Brasil. Mas naquele caso, as pessoas não estavam conectadas. A Chapecoense sim. Era um time pequeno, que estava crescendo e disputando a final da segunda competição mais importante da América do Sul que era a Copa Sul-Americana. E que vinha de uma classificação heroica contra o San Lorenzo, graças a uma defesa milagrosa do Danilo nos acréscimos.

Então esse espírito de garra e vontade de vencer mexeu com todos. Aí todo mundo entusiasmado com a final, festejando e na segunda seguinte o time desaparece. Some todo mundo.

Fiquei impressionado com os colombianos, com a homenagem que fizeram no Atanásio Girardot, campo do Atlético Nacional, no dia que seria a final. Foram 90 mil pessoas, 45 mil dentro e 45 mil fora do estádio.

A TV Globo chegou e não conseguia entrar. Quando os colombianos viram que eram brasileiros, levaram a equipe toda para dentro do campo. Atitudes que raramente a gente vê no dia a dia.

Quando retornamos a Colômbia em maio, tinham 300 pessoas gritando “vamo, vamo Chape” no aeroporto, e o avião trazendo a delegação só chegaria quatro horas depois.

Aqui no Brasil teve o amistoso contra a Colômbia no Engenhão e apenas 18 mil pessoas compareceram. Até entendo que o jogo no Rio de Janeiro não foi em um local adequado, até porque a gente sabe da dificuldade que existe na região do Engenhão. Até pelo horário e pelo valor do ingresso também.

Mas a comoção na Colômbia foi demais e me surpreendeu. E olha que o país é afetado pelo narcotráfico e pelas guerrilhas. Mas o povo de lá é extremamente humilde. Onde caímos por exemplo, as pessoas que nos salvaram não eram bombeiros e sim voluntários. Brasil e Colômbia não tem nenhuma ligação econômica, esportiva ou cultural. E o povo colombiano nos abraçou. As cidades de Chapecó e Medellín agora são irmãs.

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João Valdir – Se o resgate tivesse chegado mais rápido você entende que mais vidas poderiam ser salvas?

Henzel – O avião não tinha combustível e, consequentemente não havia fogo. Não tinha fumaça. Como você vai achar o avião no meio do mato desta forma? Ninguém sabia onde a aeronave havia caído. Entre desligar as luzes do avião e sair do radar foram dois minutos. O piloto não avisou nada para a gente.

Na gravação é possível vê-lo mais preocupado em tentar resolver o problema que criou do que nos avisar. Se tivesse nos avisado, todos os passageiros poderiam colocar os cintos de segurança e ficariam na posição correta no caso de emergência.

Eu notei que as turbinas foram desligadas e me lembro quando as luzes se apagaram. Mas aí apaguei quando bati minha cabeça a 250 km/h. Acordei no meio do mato, com muito frio.

Num primeiro momento achei que era um pesadelo, mas vi que estava sangrando muito e então cai na real que tinha sobrevivido a um acidente aéreo. Meus dois companheiros ao lado, um repórter e um comentarista, estavam mortos.

Medellín é conhecida como a Primavera da Colômbia, pois sua temperatura gira em torno dos 25 graus, mas onde o avião caiu, a 2.880 metros, é muito frio, cerca de zero grau. Ainda por cima estava chovendo. Foi muito complicado mesmo. Um milagre de Deus.

Mas acredito que se o resgate tivesse chegado mais cedo teríamos sim mais sobreviventes, mas o local era de difícil acesso.

João Valdir – Como foi o seu salvamento?

Henzel – Eu apagava e acordava, apagava e acordava. Foram cinco horas na mata escura, com muito frio. Mas notei que estava bem, pois mexia os braços e as pernas. Apenas tinha cortes no rosto e sangrava. Vi luzes e alguém chamando. Comecei a pedir por socorro. Falava em espanhol: “a ca, a ca, mais arriba”.

Aí um voluntário colombiano com uma lanterna me localizou. Em seguida chegaram os socorristas, que me tiraram dos destroços. Fui levado ao hospital por um carro tracionado. O local era de difícil acesso, tanto é verdade que só um carro passava pela rodovia principal. As pessoas até pediam para os curiosos não irem para o local do acidente, até para facilitar o resgate daqueles que sobreviveram também.

Aí me vem a imagem das ambulâncias paradas. Isso é terrível, pois existia a expectativa dos familiares que estavam no Brasil, que novas vidas fossem salvas. Os veículos parados significavam que nada mais podia ser feito. Evito até ver essas imagens, pois são impactantes para mim.

Voltei ao local do acidente alguns meses depois. Vi onde nosso avião caiu, para onde fui arremessado e as duas árvores que me salvaram. Em entendi o milagre grande que aconteceu. É por isso que falo em minhas palestras, voltei a trabalhar porque não fiquei esperando um segundo milagre. Deus foi bondoso demais comigo.

Denis Suidedos – Você passou por algum tratamento psicológico após a tragédia?

Henzel – Quando fiquei em recuperação na Colômbia, o hospital local nos ofereceu um grupo multidisciplinar, com médicos, fisioterapeutas e psicólogos. Quando o fisio entrava no meu quarto eu já sabia que vinha dor.

Com a psicóloga, que se chama Suzana – me lembro por causa da música -, foram quatro consultas. O trabalho dela foi me fazer entender sobre o acidente. Aliás, minha conta deu um décimo do que pagaria no Brasil.

Gostaria de agradecer a Chapecoense pela estrutura que me deu nesse período. Foram três médicos do clube que trabalharam 15 dias intensamente, dormindo de duas a três horas por dia. Enquanto não estabilizaram todos nós, não pararam.

Quando retornei ao Brasil, não procurei nenhum psicólogo, até porque entendi e aceitei tudo o que tinha se passado comigo e com a delegação.

Denis Suidedos – Como foi para você subir novamente em um avião?

Henzel – Viajei de avião 15 dias depois da tragédia. Foi quando retornei ao Brasil. Foram nove horas da Colômbia até Chapecó. Dois meses depois viajei para o Rio de Janeiro para o amistoso Brasil x Colômbia, no Engenhão, quando tive a honra de dividir a cabine da TV Globo com o Galvão Bueno. Confesso, foi tranquilo.

Temos que pensar em nossas vidas. Esse é um dos temas da minha palestra. O mundo não conspira contra você. Não vai cair o avião porque estou dentro dele e porque sobrevivi a um acidente anterior. Já fiz mais de 50 viagens após o acidente. Minha profissão exige isso.

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Roberto Martins – A vida continua é seu lema a partir de agora?

Henzel – Descrevo em detalhes isso no meu livro. Muitas vezes lamentamos por pouquíssimas coisas, como por exemplo, uma dor nas costas.

Eu tinha duas hérnias de disco antes do acidente e no período do tratamento achei que elas tinham desaparecido. Mas voltei minha vida normal e elas voltaram também. Lamentamos desnecessariamente.

Outra coisa, é muito bom ter dinheiro, mas ele não resolve nossas vidas. Ele te coloca em uma roda perigosa, pois você está sempre correndo atrás dele e muitas vezes não alcança. Tua vida familiar acaba ficando em segundo plano.

Eu estou vivendo minha vida na plenitude. Trabalhar é um prazer. Amo minha profissão, que é apaixonante. Voltar a trabalhar 40 dias depois da tragédia foi como tomar um fortificante. Isso fortaleceu a minha alma.

Roberto Martins – Osmar Santos também era narrador esportivo, mas um acidente de carro lhe tirou sua ferramenta de trabalho, que era a voz. Você chegou a pensar nisso?

Henzel – Deus me privilegiou. Bati a cabeça a 250 km/h, cai de avião, fui lançado na mata e estou inteiro. Poderia ser atingido por um galho de árvore ou por uma parte da fuselagem. Não estaria aqui para contar a história. Mas nada disso aconteceu e hoje estou novamente fazendo o que gosto, que é narrar futebol.

As vezes em casa, quando estou só, paro e penso que não era para eu estar aqui. Imagina as 71 famílias que perderam seus entes queridos e queriam que eles estivessem em casa.

É por isso que falo, a gente reclama do nada. Não quero que as pessoas comprem meu livro ao compareçam em minhas palestras para saber sobre a minha vida. Quero que meu exemplo seja impactante na vida dessas pessoas e que elas saiam melhores do que entraram, que saiam revigoradas e com mais vontade de viver.

Edmar Ferreira – É verdade que você recuperou sua mala e seus equipamentos de transmissão?

Henzel – Uma empresa inglesa foi contratada para identificar e limpar os pertences que foram localizados entre os destroços do avião. Minha mala voltou intacta, com minhas roupas e meus tênis dentro. Uso tudo normalmente. Não é isso que me faz melhor ou pior, correndo risco ou não. Isso faz parte da minha vida e da minha história.

Voltaram também duas bases de microfone sem fio, claro que amassadas, porém funcionando. Um sem fio retornou, outro se perdeu na mata. Também recebi os cabos, uma mesa de áudio e o meu microfone, que é da marca Sennheiser. Ele custa caro e está todo amassado na ponta. Estou transmitindo os jogos com ele.

Quando narrei o amistoso da Chapecoense em Barcelona a imprensa espanhola queria focar no microfone e como ele resistiu a queda. A minha rádio inclusive está mudando para um prédio e vai fazer um museu para colocar esses equipamentos. A vida segue.

César Roberto – Você tem pesadelos com o acidente?

Henzel – Não tive nenhum pesadelo até agora. Mas não consigo dormir direito. Até nisso Deus me preservou. Acredito que seja pelo meu entendimento sobre o que aconteceu.

Um torcedor do Figueirense me abordou e perguntou se eu pensava que iria morrer. Ninguém tinha me feito essa pergunta antes. Eu nunca pensei. Aliás, nunca me passava pela cabeça a palavra morrer, em nenhum momento mesmo. Deus me preservou até nisso.

César Roberto – Li muita coisa, em especial que a Chapecoense partiu para uma economia barata por não escolher um avião de carreira. Essa tragédia podia ser evitada?

Henzel – Se eu soubesse que a viagem não seria segura, não teria embarcado. O presidente também não. Quando voamos pela primeira vez com a LaMia, a viagem foi tranquila. A gente podia até estar correndo risco, mas ninguém sabia.

O piloto era maravilhoso, isso se falando na pessoa física dele. Nos tratava muito bem. Eu sempre conversava com ele sobre o transporte de seleções. Até brinquei um dia. Perguntei se ele só levava time que perdia, pois estava acostumado a servir as delegações da Bolívia e da Venezuela.

Infelizmente quando aconteceu a tragédia aí sim começou a surgir uma enxurrada de informações. Tinha a notícia até que a Argentina pousou no Brasil com apenas 18 minutos de combustível. O Atlético Nacional pousou duas vezes no limite do combustível. Se no Brasil nosso país é corrupto, imagine na Bolívia.

Sou capaz de dizer que se não fosse a Chapecoense, logo logo seria com outra equipe. Infelizmente a Chape morreu pelos outros.

Falo sempre nas minhas palestras sobre a exceção que vira regra. Que as pessoas sempre acham que vai dar certo o errado. E nem sempre o erro da certo.

O presidente nos disse que a viagem para Barranquilla ficaria em torno de R$ 600 mil. Mas na Copa Sul-Americana, ao contrário da Taça Libertadores e do Brasileirão, você paga a viagem antes e se avançar na competição, recebe a premiação e quita o valor, tem lucro. Talvez por isso, a Chapecoense foi por esse lado.

Na primeira vez deu certo, na segunda infelizmente não.

Roberto Lucato – Sua mensagem final

Henzel – Primeiro, agradecer todos vocês pelo programa e por me acolher com tanto carinho. Não fique pensando que só você tem problemas e que o mundo está contra você. Não é assim. Cada um enfrenta problemas no dia a dia, uns mais, outros menos, seja no trabalho, na convivência ou num relacionamento.

Temos que pensar que amanhã será um outro dia. O cantor Renato Russo dizia em uma de suas canções que o sol vai brilhar amanhã. Só não tem solução a morte.

Vejo alguns amigos reclamando de cobranças logo na segunda-feira e dizem que a semana “começou bem”. Mas se você está devendo, pode ser segunda, terça ou quarta, tem que pagar. Não se pode desacreditar. Eu sei que sirvo de motivação para médicos, enfermeiros e para muita gente.

Mas temos que dar um pouquinho de nós também. Lembre-se, amanhã será um novo dia.

*** Fotos – Fernando Carvalho/ Gazeta de Limeira

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Programa Segunda Esportiva na íntegra com a participação de Rafael Henzel

 

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